Neoteorias – Estudos Independentes
Reflexões Livres sobre Educação
Por João Paulo Soares Carvalho
O pensamento racional, que distingue os seres humanos de todas as outras espécies de seres vivos no mundo, permite ao homem que se reconheça e se perceba como ser individual. Enquanto os outros seres simplesmente são o que devem ser, tendo suas ações regidas por instinto e predisposições genéticas, os seres humanos desfrutam da possibilidade de escolha oferecida pela racionalidade. A vida regida por instinto não permite aos seus executores a possibilidade de questionamento de suas próprias ações, diferentemente da vida regida pela racionalidade que oferece a oportunidade de reflexão e escolha aos seres humanos.
Com essa possibilidade de escolha os seres humanos, que são animais de vida coletiva, determinam a maneira que vão se relacionar criando diferentes culturas. Cultura é a maneira com que uma determinada coletividade se relaciona, carregada de valores e tradições que distinguem e caracterizam tal cultura.
Quando uma coletividade assume uma determinada cultura, independente da cultura assumida, é chamada de sociedade, que já é fruto das escolhas, conscientes ou não, de ações possibilitadas pela racionalidade, deixando assim de ser natural aos homens. Com esse distanciamento do natural é necessário aos homens que aprendam a ser homens, pois os valores sócio-culturais, que são escolhas, não podem ser transmitidos geneticamente por vias biológicas naturais.
Para que o ser racional deixe de ser simplesmente um ser individual e se torne um ser social é necessário que passe por um processo de formação social, chamado educação. Para que ocorra este processo é necessário que os indivíduos que fazem parte de uma sociedade reconheçam os valores que norteiam sua cultura, para que possam desenvolver o melhor processo de formação de seres sociais que perpetue os valores e as características daquela cultura. A educação sempre estará a serviço da sociedade que a pratica.
Se a educação é um processo de formação social é necessário que se tenha, no mínimo, uma projeção do produto final, ou seja, uma perspectiva de que ser social se pretende obter nesse processo. Esta perspectiva é uma projeção de homem ideal internalizado, mesmo que inconscientemente, pelos seres sociais de uma determinada cultura, fazendo com que todo o processo seja estruturado basicamente em uma distorção melhorada da realidade.
Distorções projetadas da realidade podem ser definidas como ideologia, que representam uma possibilidade do ser que ainda não é. Estas projeções ideológicas podem ser realizadas por uma forma livre de pensamento chamada filosofia.
A filosofia propõe o questionamento livre de todas as informações e idéias existentes na racionalidade. Com estes questionamentos é possível que se perceba, crie ou imagine possibilidades reais, ou não, de novos estilos e maneiras de relacionamento entre seres racionais de uma mesma cultura.
Sendo assim, se a educação é um processo de formação social intencional, que pode ter seu produto planejado racionalmente ou projetado ideologicamente através de pensamentos filosóficos, é possível que se determine a educação como a ação prática de uma ideologia social filosofada. Podemos então nos questionar: se temos escolha, porque continuamos a propagar nosso estilo de vida?
